Nietzsche

""Como é que se deve subir a encosta?" Simplesmente sobe e não penses nisso!" [Nietzsche]

Manoel de Barros

"Nasci para administrar o à-toa, o em vão, o inútil." [Manoel de Barros]

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Uma pequena jornada


Acordar cedinho pegar a bike e pedalar 80 km, três horas e meia BR 235 e depois BR 101, ladeiras e subidas intercalando em toda extensão dos 40 km que liga Aracaju a Itaporanga D’ajuda. O suor vai escorrendo do rosto, transpiração ofegante, mochila pesando uns 15 kg nas costas, os caminhões em alta velocidade passam quase te levando com o vento que segue na mesma direção e velocidade. Nada é mais fantástico do que descer uma ladeira de 3 km, depois de ter subido uma de 2 km, é nesse momento de descida que a uma transformação total no seu espírito aventureiro, nesse momento eu posso ensinar como torna-se livre, como tocar a liberdade de uma forma impensável como uma experiência entre natureza e homem, num jogo de interação e de equilíbrio das forças entre corpo e aerodinâmica, entre suor e asfalto, entre espírito e sabedoria. 


Um momento para hidratação e descanso na cidade de Itaporanga D’ajuda, enquanto funcionários públicos varrem a praça descanso sabendo que tenho mais 40 km de pedaladas, mas e eles os funcionários públicos quantos quilômetros ainda faltam para perceberem a existência de vida mais a frente, varrer rua é uma necessidade urbana, mas varrer o nosso espírito é uma obrigação por que dele prescinde a coragem necessária para varrer o mundo. 


A estratégia agora é seguir de itaporanga D’ajuda até Gravata um pequeno povoado divisa com Lagarto distante 40 km, estradas péssimas, o atrito do pneu com o asfalto antigo deixa a bicicleta pesada, a estrada íngreme e desértica a maior parte do percurso, o que é bom por que ouve-se com frequência a orquestra do brejo composta pelos grilos que entoam uma nota só, pelas cigarras zunido longamente e para terminar o afinado cantos dos pássaros. Na verdade a orquestra dos brejos é a coisa mais incrível de se ouvir. Depois de passar pelos brejos ao atravessar os povoados as pessoas te olham com aquele olhar alumbrado de quem avista um forasteiro, eles transmitem um olhar de quem sabe que nunca fará uma grade viagem dessas, mas que admira a coragem e a determinação do mochileiro. 


A chegada é a conquista maior, o prêmio, o grande troféu é o descanso em uma bela varanda onde o vento canta uma canção de ninar ao mesmo tempo em que balança a rede e você dorme até o finalzinho de tarde quando o próprio vento te acorda com uma rajada fria. Agora começa a preparação para volta com muita fibras, água e mais muito mais descanso.

O mundo é maior do que imaginamos e não precisamos de forma alguma pagar pedágio para conhecê-lo.

É a força que nos conduz para onde quisermos da forma que bem entendemos.

Não vou jamais parar porque alguém diz que é loucura.

Até mais com a próxima aventura, pois o objetivo é sempre surpreender. A saúde da mente e do corpo são peças fundamentais para uma boa jornada, nunca esqueça. Sejamos complacentes!!!

terça-feira, 15 de abril de 2014

Sob a sombra de uma castanheira



Às vezes eu preciso parar em qualquer ponto da cidade por pura vontade de observação, eis a vantagem de circular de bicicleta você pode estacionar e observar o imenso vale de concreto por sob a cabeça. Parei em baixo de um pé de castanheira, não existe na cidade de Aracaju sombra mais fantástica que a sombra desse pé de castanheira, virou meu ponto principal de parada, de descanso, de fadiga depois de quarenta minutos de pedal. Numa dessas paradas passei a observar os prédios em construção e também os já construídos e a pergunta que me fiz foi: de onde vem tanta areia para construir tantos arranhas-céus?

A cidade se transformando em um imenso vale de concreto, sinto o cheiro massante do cimento recém grudado na parede, o cheiro do urbanismo sendo modificando para inchar ainda mais, inchar de vida humana. Ouço de longe os ruídos dos martelos, das pás, das maquinas, dos peões uma verdadeira orquestra da construção afinada para acordar o amanhã. Percorro de bicicleta toda Aracaju e só o que ouço são batidas de martelos anunciando o inicio, o meio ou fim de uma construção, o martelo é o instrumento mestre dos vales de concreto. De onde vem a areia eu não sei, o que sei é dessa maravilhosa sombra que um dia deixará de existir para dar lugar a outra sombra só que de concreto.

sábado, 12 de abril de 2014

O começo da grande saga


Daqui por diante começo a me preparar para um projeto, um grande sonho que venho imaginando desde 2012. Dar a volta ao Brasil em cima de uma bicicleta comum, a minha bicicleta. Sem planos, objetivos, estrategias deixarei isso com os homens de negócio. Simplesmente sairei numa manhã de um dia qualquer de dezembro, sem pressa, no meu ritmo, em cada pedalada para ver o mundo em cima duas rodas. A ideia é chegar ao sul passando por Bahia, Tocantins, Brasilia, Minas Gerais, São Paulo, Parana, Santa Catarina e por fim Rio Grande do Sul onde permanecerei por alguns meses, depois retornarei pelo outro lado do Brasil, pela transamazônica, percorrendo todo nordeste e sua costa litorânea  para enfim chegar ao ponto de partida. 

Como esse projeto só acontecerá em dezembro mês em que receberei meu diploma de licenciatura em matemática. Até lá tenho que me contentar com as ruas de Aracaju, e com 80 km, quatro horas de pedalada até um interiorzinho de Itaporanga D'ajuda onde meus pais moram. Esse último o de maior preparo onde colocarei em jogo minha resistência e minha coragem para enfrentar adversidades. 


Vamos que vamos! Porque como diz o Marcelo Jeneci "o melhor da vida sempre vem de graça", então aproveitar para deixar eternizado alguma coisa que se possa alumbrar os ouvidos outrora. 


Ainda é do vento contra que tenho medo. Que os ventos até dezembro estejam a favor. 


Até mais!